Etiqueta de calçado vegano

Há, essencialmente, duas grandes questões que devem levar as pessoas a reflectirem mais aprofundadamente acerca do que consomem no que diz respeito ao seu vestuário e calçado. Uma é, evidentemente, a questão ambiental: ou seja, de que maneira é que a roupa que as pessoas compram é produzida e de que modo essa produção afecta o equilíbrio ecológico do planeta. Outra é a questão ética que se refere à exploração e ao tratamento a que são submetidos os animais.
Ora, quanto à questão ambiental, é óbvio que as fibras sintéticas e vegetais (acrílico, polar, algodão, linho, etc.), como disse e volto a repetir, são obtidas e processadas, na maior parte das vezes, de forma nada ecológica. De igual modo, também as tintas usadas para tingir a roupa são, normalmente, tudo menos ecológicas. No entanto, felizmente muitas empresas já estão a tomar medidas interessantes (é o caso da C&A) para produzirem vestuário mais ecológico, nomeadamente usando algodão biológico. Ainda assim, ainda no campo da questão ambiental, a verdade é que a produção de lã é, em geral, tão pouco ecológica, ou menos ainda, quanto a produção de fibras sintéticas e vegetais. E também deve ser referido que, apesar de tudo, a indústria pecuária, com as suas sub-indústrias e ramificações, seja em que escala for, é a indústria mais poluente do mundo. Por isso, neste campo, umas e outras fibras não são obtidas ecologicamente – salvo nos raros casos em que provêm de explorações biológicas.
Dito isto, importa salientar a questão animal. Isto porque a verdade é que, independentemente dos problemas ambientais associados à produção de umas e outras fibras, é incontornável reconhecer que a produção de lã (assim como de pele, por exemplo) implica sempre, antes de mais, a exploração de animais, que é sempre errada e inaceitável, além de implicar, quase sempre, o tratamento cruel destinado a estes animais, quando não a sua morte (no caso da pele, obviamente). A produção de fibras vegetais e sintéticas, por seu turno, não envolve nada disto.

Por isso, numa avaliação moral e ecológica desta questão, estão, de um lado, as fibras vegetais e sintéticas, que “só” apresentam problemas ambientais (excepto quando são biológicas) mas que não envolvem a exploração e a violência contra animais, enquanto, do outro lado, está a lã (e a pele), que, além dos problemas ambientais que apresenta, ainda por cima envolve a exploração e a violência contra animais. Ora, isto faz com que a primeira opção – fibras vegetais e sintéticas – seja sempre menos má (e, por isso, preferível) do que a segunda opção – lã (e pele).
E, porque nunca é demais dizê-lo, repito, da maneira mais enfática que me é possível, que escolher roupa certificadamente biológica e ecológica, de comércio justo, é sempre o ideal.
Mas a verdade é que a maioria das pessoas faz compras nas grandes cadeias de lojas. É mais prático, mais barato e mais fashion. Nada há de condenável nisso. Tal como a maioria das pessoas vai ao supermercado, porque é mais prático e mais barato. E é aí que entra em cena a importância das escolhas. Não escolher lã, escolher algodão. Escolher biológico. Escolher tofu em vez de bacalhau, por exemplo. E estas escolhas, que parecem pequenas, têm um impacto enorme, não apenas no mundo, mas no mercado. Optar por algodão em vez da lã, por sintético em vez de pele, por biológico em vez de intensivo, faz com que as empresas se tenham de adaptar (como já estão a fazer) para conseguir acompanhar as escolhas dos consumidores. Que hão-de sempre ir ao supermercado e às lojas e que, com estas informações, poderão tomar decisões de consumo que, pouco a pouco mas de maneira expressiva, ajudam a corrigir o que há a corrigir. Para os animais, para as pessoas e para o planeta.