Quando vou viajar, tenho imensa vontade de cozinhar. Vejo pratos diferentes, visito os mercados, o meu cérebro fervilha com ideias de receitas! Quando volto, tenho sempre milhares de receitas que quero experimentar e veganizar. E esta foi a primeira que me surgiu nesta última viagem a Paris, inspirada pela receita das Moules Marinière, que é belga, mas que quase todos os restaurantes parisienses têm no seu menu.
Ou seja, é uma receita que, originalmente, levaria mexilhão, um molusco engraçado que vive numa conchinha preta e que se agarra às rochas. Na receita original (e em todas as outras que envolvam marisco ou moluscos), o mexilhão é cozido vivo.
Eu acho sinceramente que, se os restaurantes tivessem na montra vitelos, vacas, porcos, bezerros, cabras, cavalos, etc., vivos, e que, se os cozinheiros os fossem buscar, à frente dos clientes, para os matarem e lhes tirarem um bife, ou para os assar, haveria menos pessoas a ir aos restaurantes. Para as pessoas que comem carne, acredito que, de uma maneira qualquer estranha, não se iriam sentir bem e iriam preferir evitar a morte e o sofrimento daquele animal que estariam a ver. Acho que tem alguma lógica.
Ora, isso não acontece nas marisqueiras. As santolas, as lagostas, os camarões, e, por vezes, os peixes, andam a nadar naqueles aquários minúsculos e atafulhados, e os clientes das marisqueiras até os vão ver ao aquário, antes de os animais serem brutalmente cozidos vivos.
Talvez seja porque não compreendemos ou não nos sensibilizamos com os animais que vivem num sítio onde nós não conseguimos viver. Ou porque têm uns olhinhos estranhos, pretos e redondinhos, diferentes dos nossos. Ou porque têm mais pernas do que nós e do que os nossos animais de estimação. Ou porque, simplesmente, parecem umas borrachas estranhas, ou porque têm tentáculos. Ou porque, apesar de haver muitas pessoas com aquários em casa, nunca se consegue ter, realmente, um peixe de estimação, que se possa pegar ao colo e brincar (por favor não faça isto em casa). Ou porque não conseguimos perceber a sua maneira de sofrer. Será que, por estas razões todas e tantas mais outras, não hão-de ter o nosso respeito? Vamos deixar que os cozam vivos e vamos todos satisfeitos esmagar-lhes as pernas com um martelo e chupá-las? Não. Vamos adaptar as receitas. Vamos fazer Légumes Marinière, uma receita que eleva os legumes a um nível superior, e deliciar-nos.
Receita para 2 personnes
1 cebola picada
1 dente de alho picado
1 colher de chá bem cheia de tomilho seco
1 folha de louro
1 colher de sopa de azeite
1 colher de sopa de margarina
1 cenoura cortada aos pedacinhos
1 pimento vermelho cortado às tirinhas
1 courgette cortada às meias luas
1 ramo de brócolos separados por florzinhas
½ chávena de vinho branco
½ cubo de caldo de vegetais
Uma esguichadela de sumo de limão
Salsa/salsinha picada
Pimenta preta
Refogue a cebola e o alho no azeite e na margarina, até a margarina derreter. Junte o tomilho, a cenoura e o pimento e deixe suar, mexendo frequentemente.
Quando a água desaparecer, junte a courgette e os brócolos e envolva. Regue com o vinho, adicione o caldo de vegetais e tape. Deixe cozinhar durante 10 a 15mn, mexendo de vez em quando. Quando os caules dos brócolos estiverem tenros, dê uma esguichadela de sumo de limão e uma pitada de pimenta preta. Envolva e retire do lume. Sirva polvilhado com muita salsa picada.
Eu servi com cuscuz, mas sirva com o que lhe apetecer. As Moules Mariniéres são servidas com batatas fritas e pão (para molhar no molho, que é DIVINAL), por isso, porque não?