Esta é a canja que a minha mãe fazia para mim nos dias muito frios, ou quando eu estava doente, e eu adorava. Para mim, este é o verdadeiro conforto: um caldinho, feito pela mãe, em frente à lareira, quando está um tempo assustador lá fora. De vez em quando faço-o para mim e passo a ter 7 anos outra vez – esta canja é para mim o que as madalenas são para o Proust.
É engraçado lembrar. Eu sempre gostei de ir à escola e ficava triste quando as aulas acabavam. Por isso nem me passava pela cabeça faltar às aulas. Só que, de vez em quando, lá apanhava uma constipação (resfriado) e tinha de passar uns dias em casa. Ficava com a minha avó a jogar o Jogo da Glória a tarde toda (e a fazer batota… desculpa, avózita!), fazia pequenos espectáculos dentro da cama, prendia os lençóis à cabeceira da cama e fazia de conta que estava num acampamento, enfim, era muito divertido. À hora de comer, a minha mãe trazia-me esta canja, ou um arroz de cenoura muito malandrinho, e maçã cozida de sobremesa. E eu comia na cama, quentinha, enquanto via o que estava a dar numa televisão amarela dos anos 60, a preto e branco, que a minha mãe punha no meu quarto só quando eu estava doente.
Estão a ver as memórias todas que uma simples canja traz?! Cozinhem coisas boas para a vossa família, para os vossos filhotes: eles vão lembrar-se disso a vida inteira. Não é preciso ter fazer coisas muito complicadas, e, no final, é só preciso juntar carinho. Criem as vossas memórias também.
Receita para 2 pessoas
1 cenoura cortada em juliana fininha ou ralada
1 cubo de caldo de legumes (se possível biológico)
1 dente de alho grande cortado a meio
1 mão de massinhas (usei as do alfabeto)
Um fio de azeite
1 folha de louro
3 chávenas/xícaras de água
Numa panela, refogue a cenoura com os alhos e a folha de louro num pouco de azeite, até estar tenra (5mn).
Junte a água e as massinhas e deixe cozinhar durante 15 mn, ou até as massas estarem cozidas.
Sirva quentinho.
PS – esta é apenas uma base muito simples. Pode juntar tudo e mais alguma coisa: couve em juliana, massa de arroz, enfim, o que lhe apetecer. Para mim, quanto mais simples, melhor.
Que giro dizeres “Cozinhem coisas boas para a vossa família, para os vossos filhotes: eles vão lembrar-se disso a vida inteira.” Entre as melhores recordações que guardo da minha avó contam-se, de facto, pratos típicos alentejanos que ela fazia melhor que ninguém. Muitas vezes penso nisso, pois cá em casa é o homem que cozinha e eu limito a cozinhar para desenrascar (apesar de adorar blogues de culinária e de folhear livros de culinária, especialmente vegetariana). Já pensei que tenho de começar já a preencher essa lacuna para que a minha filha, agora com dois anos, se lembre de mim com carinho sempre que comer um determinado prato. E a canja, que adoro e que a minha mãe também fazia quando estava doente, é uma óptima maneira de começar! Obrigada pela inspiração!
Polliejean, são comentários como o seu que fazem com que tudo valha a pena! 🙂
Espero que a sua filhota goste da canja.
Obrigada!
Maria
A mãe fica feliz e toda babada! São as tais pequenas coisas que ficam para a vida inteira. E como eu tenho saudades desses momentos.
Boa tarde Maria
Gostaria de partilhar consigo que faço para as minhas crianças uma canja semelhante à sua mas enriqueço-a com pedacinhos de tofu ou seitan, vou alternando.Também lhe junto raminhos de hortelã, fica deliciosa, agrada a adultos e crianças.
Obrigada pelo seu blog é uma inspiração para mim.
Esmeralda Maçarico
Cara Esmeralda,
Muito obrigada pelo seu comentário tão gentil! E muito obrigada pela partilha – vou experimentar também! A hortelã deve ficar divinal! Tenho a certeza de que as suas crianças se vão lembrar da sua canja daqui a muitos anos, como eu me lembro da da minha mãe. Um abraço, Maria
Ler o seu post encheu meu olhos de emoção e lágrima. Estou me contendo porque estou no trabalho. Eu me sinto muito plena ao cozinhar para minha família, atualmente meu esposo e meu pequeno de 1 ano. E meu marido enche-me de elogios e fica todo enternecido quando faço algo para eles, com amor. Emocionei-me ao imaginar marcando a vida do meu filho para sempre com os meus pratos feitos de carinho e sabores. Cheguei ao seu blog por causa do Missô; adoro a sopa de missô (missoshiro). Comprei então numa loja de artigos japoneses e não sabia ainda o que fazer com aquilo. Amanhã ou sábado prepararei para todos nós aqui em casa.
Grata por escrever.
Quero fazer um blog também (mas com assuntos variados) para conseguir, quiçá, emocionar as pessoas assim como me emocionei aqui, simplesmente escrevendo as coisas em que acredito.
Cristiana, são comentários como o seu que fazem com que ter um blog faça sentido. Muito obrigada, do fundo do coração, e votos de sucesso para o seu blog! Muitas felicidades para a sua família!